O ESGUICHO

que faz um esguicho? esguicha!

04 novembro, 2006

Pescado selvagem pode desaparecer dos oceanos até 2050

Será que num futuro próximo todo o peixe consumido pelo homem terá de ser produzido em explorações de aquacultura e não capturado no meio selvagem?
Este é um cenário provável, mas ainda reversível, segundo as conclusões de um estudo feito por um grupo internacional de ecologistas e economistas, publicado hoje na revista "Science".
A perda de biodiversidade marinha está a reduzir progressivamente a capacidade do oceano de fornecer alimentos, manter a qualidade da água e recuperar de perturbações. Os resultados revelam uma tendência global que reflecte algo que os cientistas já tinham observado em escalas mais pequenas.

"Quando perdemos espécies, perdemos a produtividade e estabilidade de ecossistemas inteiros. Fiquei chocado e perturbado pela consistência que estas tendências têm - para além de tudo o que suspeitávamos", diz Boris Worm da Universidade de Dalhousie, Canadá, primeiro autor do artigo. As alterações na biodiversidade marinha são causadas directamente pela exploração, poluição e destruição de habitats e, indirectamente, por perturbações relacionadas com alterações climáticas. Os dados demonstram que os ecossistemas oceânicos ainda têm uma grande capacidade de recuperação, mas as projecções publicadas na Science prevêem o colapso de todas as espécies de pescado selvagem até 2050. Colapso é por definição o desaparecimento de 90 por cento da população da espécie. "A não ser que alteremos profundamente o modo como gerimos todas as espécies oceânicas, como um ecossistema funcional, este será o último século de pescado selvagem", afirma Steve Palumbi, da Universidade de Standford, co-autor do artigo. Mas os impactos vão para além do declínio no pescado: à medida que os ecossistemas costeiros vão ficando desprovidos, tornam-se mais vulneráveis a espécies invasivas, a doenças e a surtos de algas nocivas, que podem ter riscos para a saúde humana.
"O oceano faz muita reciclagem", explica Palumbi, "Pega no esgoto e recicla-o em nutrientes, remove as toxinas da água, produz alimentos e transforma dióxido de carbono em alimentos e oxigénio." Mas, para desempenhar estas funções, o oceano precisa de todas as suas peças a funcionar, os milhões de plantas e animais que habitam o mar.
O estudo tem quatro componentes. Primeiro, os autores fizeram a análise de dados publicados na literatura, referentes a 32 pequenas experiências controladas, para analisar os efeitos da variação da biodiversidade marinha a uma escala local. Depois, procuraram seguir as alterações na variedade das espécies ao longo de um período de 1000 anos, em 12 regiões costeiras, recorrendo a arquivos, registos de pesca, sedimentos e dados arqueológicos. Em seguida, compilaram dados de capturas de pescado de 64 grandes ecossistemas marinhos para avaliar os efeitos da perda de espécies em larga escala nas actividades relacionadas com a pesca. Finalmente, investigaram a recuperação da biodiversidade em 48 zonas marinhas protegidas.
Os autores sugerem que a restauração da biodiversidade marinha através de uma gestão de pesca sustentável, controlo de poluição, manutenção dos habitats essenciais e criação de reservas marinhas, é um investimento na produtividade e fiabilidade dos bens e serviços que o oceano presta à humanidade. E que a manutenção do estado actual das coisas representa ameaças sérias à segurança alimentar a nível global, à qualidade das águas costeiras e à estabilidade dos ecossistemas para a actual e futuras gerações. "Se a biodiversidade continuar em declínio, o ambiente marinho não será capaz de sustentar o nosso modo de vida. De facto pode não ser capaz de sustentar a nossa vida de todo", alerta o co-autor Nicola Beaument, do Laboratório Marinho de Plymouth, Reino Unido.

fonte: Público